Tem textos que quando lemos, pensamos: puxa, penso igual ao autor. Embora pensamento e escrita se distancie um bocado... Eu, com minha timidez excessiva de escrever, me contento com as palavras dos outros. Amo ler e me emociono quando encontro pensamentos que também são meus. Os escritores têm minha admiração e gratidão por tanto que eles me completam.
No dia que li o livro Ó de Nuno Ramos, me impressionei com a escrita dele, com a coragem, a fluidêz que ele coloca as palvras no papel. A leitura parece uma dança, onde paisagem e sons tomam conta de quem se aventura a iniciá-la. Nuno fala de possíbilidade, fala de corpo, fala de cotidiano e fala de tudo desnudamente. No trecho que segue, algo de real no meu pensamento, no meu corpo.
“Toda linguagem, toda ciência, toda poesia quer aumentar a transparência desse vidro frágil, mas acaba por aumentar sua espessura – em vez de fazer durar a epifania, substitui-se a ela, criando uma nova camada de isolamento. Assim, numa espécie de asma progressiva e inexorável, nos distanciamos cada vez mais da respiração do ar fresco, obstruindo nosso caminho com os próprios artefatos que criamos. Não percebemos o vento, nem o frio, nem o roçar das folhas. Uma blindagem nos separa do céu.” (retirado do livro Ó de Nuno Ramos)